uma imagem se define por duas características complementares:
essas duas características podem ser resumidas como: é visível o que participa de uma estabilidade ordenada. é a estabilidade que garante sua identidade a si, seu fascinante não-aparecer-como-outro; é a ordenação que garante seus limites, sua diferença externa com o que não é. mas isso só faz sentido sob uma condição: o visível só o é porque, enquanto aparece, oculta a ordem da qual participa e que projeta sua visibilidade, "elide o falo", que a atualização de uma potência é também a não-atualização de todas as outras potências inscritas na ordem bem como a ordem como tal, a imagem se manifesta ocultando suas latências. assim, também para saber da ordenação da qual a imagem participa e que a possibilita é preciso considerá-la previamente à sua manifestação, deixar de vê-la como imagem. a forma de manifestação da ordenação chamaremos conhecimento; mas sua latência é sua instabilidade.
pois, para qualquer ordem, mesmo as infinitas, é sempre possível imaginar um elemento do qual ela não dá conta, um elemento cuja pura imaginação denuncia a incapacidade da ordem de dar conta de todas as potências do ser. em sua especificidade, uma imagem tal não-previamente ordenável se manifesta como possibilidade de uma ordem previamente desconhecida. no entanto, a descoberta de uma possibilidade previamente não-inscrita na ordem atual implica, para esta, sua insuficiência em prever suas possibilidades; insuficiência não do conhecimento da ordem, mas insuficiência da própria ordem atualmente existente e, em última instância, de qualquer ordenação.
assim, uma imagem pode ser aquilo que é redutível a si porque redutível à ordem da qual participa: de posse do seu princípio de constituição, da razão a partir da qual eu a obtenho, obtenho também todas as imagens que participam dessa ordem.