a obra de kant é uma síntese da história pregressa da filosofia moderna, que é uma sucessão de reencontros da mesma problemática sob diversas perspectivas: a cisão entre fenômeno e númeno. kant marca portanto o ápice do liberalismo filosófico pela enunciação definitiva de suas restrições imanentes. o liberalismo pode, portanto, ser retroativamente definido a partir de sua filosofia: é liberal aquele que respeita essa cisão. em essência, se desenvolveram dois caminhos para os que não se contentaram com esse impasse.
o primeiro é o caminho dialético; kant estabelece de forma precisa a diferença entre o fenômeno - isto é, a coisa para outro - e a consciência do outro sobre a coisa: a coisa para outro se constitui da consciência que o outro tem da coisa bem como das incidências da coisa sobre o outro das quais o outro não tem consciência - perspectiva que pode alterar drasticamente a própria consciência do outro. e.g.: ainda que eu não tenha consciência da exploração do trabalho, o burguês continua incidindo sobre mim como explorador, o que faz parte do fênomeno do outro. isto é, a coisa para outro não apenas não é determinada pela consciência do outro como, ao contrário, é ela quem a determina. no entanto, retroativamente, isto também é válido para o outro como coisa em si e como coisa para outro, que também incide sobre seus outros determinando a consciência do outros sobre si. como a coisa para outro determina a consciência do outro sobre si, ela não está inscrita na consciência do outro, mas a circunscreve, assim como o outro para a coisa também circunscreve a consciência da coisa sobre o outro. portanto, há uma identidade entre a coisa e o outro: a coisa para outro não é algo externo à coisa, mas está inscrita na própria coisa em si. isso implica que a coisa para o Todo é idêntica à coisa em si. esta relação de determinação complexa que descreve a simultânea cisão e unidade entre o númeno e o fenômeno é o que pode ser chamado de dialética.
o segundo caminho é o do martelo: se baseia em algum tipo de recusa à unidade do Todo e, portanto, à coisa em si.