No capítulo do capital sobre o processo de trabalho, há a seguinte passagem: “Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha realiza operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no inicio deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade”.
Na interpretação dessa passagem reside a diferença fundamental entre Lukacs e Althusser. Lukacs a usa para justificar seu entendimento do trabalho como "por teleológico", isto é, como uma atividade cujo caráter fundamental é que sua teleologia é determinada pelo homem por um ato de consciência que funciona como causa suficiente. Diz Lukacs: "Enquanto a causalidade é um princípio de movimento autônomo que repousa sobre si mesmo e que mantém este caráter mesmo quando uma série causal tenha o seu ponto de partida num ato da consciência, a teleologia é, por sua própria natureza, uma categoria posta: todo processo teleológico implica numa finalidade e, portanto, numa consciência que estabelece fins. Pôr, neste caso, não significa simplesmente tomar consciência, como acontece com outras categorias – especialmente com a causalidade – ao contrário, aqui, com o ato de pôr, a consciência dá início a um processo real, exatamente ao processo teleológico." Como laço fundamental da sociabilidade humana, o trabalho fundamenta então o "por teleológico" como traço fundamental do ser social, posicionando Lukacs no humanismo teórico.
Os althusserianos, por outro lado, enfatizam o fato de que objetivo do trabalho "determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade" e a ele o trabalhador "tem de subordinar sua vontade". Aqui pode-se fazer uma separação sutil entre o "objetivo" do processo de trabalho e a construção ideal em si do produto pelo trabalhador. Enquanto o último é uma atividade consciente (isto é, o arquiteto toma uma série de decisões atribuíveis a sua "vontade" na construção de um projeto), o primeiro é dado pelo campo social, e por isso aparece para o trabalhador como uma "lei" a qual ele "tem de subordinar sua vontade" (essas decisões estão determinadas por um fim externo ao processo de trabalho e que repousa no campo social).
Com isso pode-se argumentar que em Lukacs há uma confusão entre esses dois termos do processo: de um lado, a realização consciente de leis externas à consciência, e, de outro, o "fim" da atividade, que é a produção de um valor de uso que, enquanto tal, é determinado pelo consumo, ou pelo menos cuja razão provém do campo social (das estruturas sociais, da linguagem, da ideologia etc), não sendo "o homem" causa suficiente para a teleologia de seu trabalho (de modo semelhante à realização da língua: uma pessoa geralmente fala por um ato de consciência, por querer expressar algo que já havia sido idealmente concebido, porém sem necessariamente se dar conta de que esse dito é determinado não apenas pela gramática, mas pelo inconsciente, por certo jogo de posições ao nível da enunciação etc). Isto é, não é apenas o processo de valorização que implica em uma alienação do trabalhador dos fins de seu trabalho, mas também no próprio processo de trabalho tais fins já lhe aparecem como leis que determinam o processo.
Se, com isso, partimos, como Lukacs, do pressuposto marxista de que o trabalho é o laço fundamental da sociabilidade humana, chagamos, no entanto, a uma conclusão completamente diferente: se o processo de trabalho já se constitui em si por uma alienação de seus fins, não faz sentido falar em "trabalho" ou "homem desalienado", pois é a própria alienação que constitui o homem como tal por meio do trabalho. Daí também a recusa de Althusser ao conceito de alienação como ele aparece nos manuscritos econômico-filosóficos de 1844: se o a alienação é o ato fundamental que constitui o sujeito humano, pensar o fim do capitalismo nos termos da "desalienação" é retornar à problemática iluminista da "origem". Daí também porque, na Crítica ao Programa de Gotha, Marx critica a proposta de dar ao trabalhador o produto total de seu trabalho: seus contrargumentos, que operam no nível da organização econômica (como então se constituiria uma previdência social? um fundo de reserva contra catástrofes naturais? etc.), revelam um fundamento filosófico mais profundo da crítica da economia política: a entrada no campo social é um movimento que desfaz suas origens; ou melhor, é a partir da simultaneidade entre a defasagem e a imbricação entre o sujeito e o campo de relações sociais pelas quais ele se constitui que a ideologia de uma origem perdida encontra seu fundamento real.
Em uma passagem de sua "Teoria da Produção Literária", no capítulo "Creation and Production", Macherey, aluno de Althusser, afirma: “Now, art is not man's creation, it is a product (and the producer is not a subject centred in his creation, he is an element in a situation or a system): different - in being a product - from religion, which has chosen its dwelling among all the spontaneous illusions of spontaneity, which is certainly a kind of creation. Before disposing of these works - which can only be called theirs by an elaborate evasion - men have to produce them, not by magic, but by a real labour of production. If man creates man, the artist produces works, in determinate conditions; he does not work on himself but on that thing which escapes him in so many ways, and never belongs to him until after the event.”