se a essência da arte está em seu caráter de aparência -- ela é, em si, para outro --, a objetividade das suas linguagens só pode se formar com referência à constituição do sujeito. essa concepção, presente em adorno, é especialmente fina porque distingue-se de uma mera teoria da recepção e do subjetivismo. uma diferença crucial da estética de adorno em relação a essas teorias é que ele dispensa o recurso à pressuposição de um espectador realmente existente - pressuposição que, por seu aplanamento do sujeito, é sempre uma reconstrução ideal. assim como em hegel, o conceito do sujeito se emancipa da consciência individual e entra num percurso histórico, que o sujeito individual rememora; essa distinção remete à distinção freudiana entre filogênese e ontogênese, no entanto, extirpada de toda referência residual a um progresso linear presente em freud. por isso, para adorno, o sujeito da obra de arte verdadeira é sempre o "espectador ideal", que vê "do ponto de vista da redenção", assim como o espectador regressivo é deduzido da obra de arte falsa. em ambos há uma primazia da objetividade da obra no sentido de que ela produz seu sujeito.

feb 27 2020 ∞
mar 8 2020 +