com o colapso do sistema de spinoza, hegel preserva seu método racional em vez de preservar irracionalmente os seus resultados: tanto o tempo como o espaço não são descritos por hegel a partir da representação, como em kant, mas concebidos como anteriores a ela — concebendo, portanto, a representação a partir das suas condições, e não estas a partir do seu efeito. pois se nossa definição do tempo e do espaço parte da representação, terminamos com um conceito de tempo e de espaço dependente do pensamento representativo, e a crítica da redução representativa do tempo, sua espacialização, só pode se dar como negação abstrata. isso esclarece o erro de bergson, para quem o espaço é definido como a forma do meio homogêneo e vazio. de fato, hegel está de acordo que o meio homogêneo e vazio que é condição da representação só emerge como síntese de sensações retiradas da sucessividade da duração pela memória; a emergência da reciprocidade entre lugares justapostos num meio homogêneo depende do tempo, e não o contrário. mas hegel entende que o espaço, assim como o tempo, pertencem à natureza, isto é, diferentemente do que pensa kant, não surgem da consciência como atenas da cabeça de zeus — bergson deixa obscuro se considera ou não que o espaço enquanto tal seja dependente da síntese sucessiva de um sujeito que o representa, se, como em schopenhauer, "o mundo é minha representação", a posição idealista no mal sentido. se concedermos que o espaço pertence à natureza, ele não pode ser tomado primeiramente como essa reciprocidade dos lugares justapostos descrita a partir da representação, como as oposições dos universais simples da percepção, pois, como as oposições só são produzidas no tempo, dizer isso seria dizer que o espaço já é em-si temporalizado. o que é determinado como no espaço sem ser no tempo é o caráter de "ser-fora-um-do-outro", o caráter do que, como no início da lógica, é negado produzindo a oposição — aqui, na filosofia da natureza, negado pelo tempo. de fato, apesar de ser produzida pelo tempo, a figura do meio homogêneo e vazio, sem a qual a representação colapsa na "figura da carência-de-figura", é, tomada como tal, uma figura destemporalizada; mas isso significa precisamente que ela é tomada pela consciência como resultado abstrato, sem incluir reflexivamente o movimento que a produziu: o tempo. bergson, definindo o espaço pela reciprocidade opositiva dos lugares no meio homogêneo e vazio, termina vinculando a própria determinidade à representação. por isso, criticando a representação, termina irracionalista. mas perceba-se que os próprios critérios com que ele critica a representação são retirados da representação: ele não consegue pensar a negação fora da oposição representada. daí que a caracterização da duração como uma "heterogeneidade" deva ser complementada com um "indistinta" ou outros oxímoros equivalentes: o próprio critério de designação da diferenciação produzida pelo tempo é a negação abstrata da oposição espacial, isto é, o critério depende do pensamento representativo; a crítica é heterônoma, renuncia à capacidade subjetiva de superar a limitação da representação, pois só consegue criticá-la pressupondo-a. no lugar da promessa spinozista de um pensamento sem imagens, fica-se com imagens sem pensamento.

mar 25 2021 ∞
mar 25 2021 +