• "Como as grandes obras, os sentimentos profundos sempre significam mais do que têm consciência de dizer."
  • "O absurdo nasce desse confronto entre o apelo humano e o silêncio despropositado do mundo."
  • "Existe um fato evidente que parece inteiramente moral: é que um homem é sempre a presa de suas verdades. Uma vez reconhecidas, ele não saberia se desligar delas. E é preciso pagar um tanto por isso. Um homem que tomou consciência do absurdo se vê atado a ele para sempre. Um homem sem esperança e consciente de sê-lo não pertence mais ao futuro. Isso está na ordem. Mas está igualmente na ordem que ele se esforce por escapar ao universo de que é criador. Tudo o que vem acima só tem sentido precisamente com a consideração desse paradoxo."
  • "As leis da natureza podem ser válidas até um certo limite, após o qual elas se voltam contra si mesmas para fazer nascer o absurdo. Ou, ainda, elas podem se legitimar no plano da descrição sem por isso serem verdadeiras no da explicação. Tudo, então, é sacrificado ao irracional e, uma vez escamoteada a exigência de clareza, o absurdo desaparece com um dos termos da comparação. O homem absurdo, ao contrário, não processa esse nivelamento. Reconhece a luta, não despreza de modo algum a razão e admite o irracional. Desse modo, ele encobre do olhar todos os dados da experiência e não está nada disposto a saltar antes de saber. Ele sabe, somente, que nessa consciência atenta não há mais lugar para a esperança."
  • "Quero saber se posso viver com o que sei e com isso apenas. Ainda me é dito que a inteligência, nesse caso, deve sacrificar seu orgulho e a razão deve se inclinar. Mas se reconheço os limites da razão, não chego ao ponto de negá-la, reconhecendo seus poderes relativos. Quero somente me manter nesse caminho médio em que a inteligência pode permanecer clara. Se tem nisso o seu orgulho, não vejo razão suficiente para renunciar a ele."
  • "O absurdo é o pecado sem Deus."
  • "Pensar não é unificar, tornar familiar a aparência sob a fisionomia de um grande princípio. Pensar é reaprender a ver, dirigir a consciência, fazer de cada imagem um lugar privilegiado."
  • "Posso negar tudo nessa parte de mim que vive de nostalgias incertas, menos esse desejo de unidade, essa fome de resolver, essa exigência de clareza e coesão. Posso contrariar tudo nesse mundo que me envolve, me choca ou me transporta, menos esse caos, esse rei acaso e essa divina equivalência que nasce da anarquia."
  • "A conquista ou o jogo, o amor inumerável, a revolta absurda são homenagens que o homem presta à sua dignidade numa campanha em que ele está antecipadamente vencido."
  • "Para que seja possível uma obra absurda, é preciso que o pensamento esteja amalgamado com ela em sua mais lúcida forma. Mas é preciso, ao mesmo tempo, que ele não apareça nela senão como a inteligência que organiza. Esse paradoxo se explica de acordo com o absurdo. A obra de arte nasce da renúncia da inteligência a raciocinar sobre o concreto. Ela assinala o triunfo do carnal. É o pensamento lúcido que a origina, mas nesse próprio ato ela se desprende. Não cederá à tentação de sobrepor ao descrito um sentido mais profundo que ela sabe ilegítimo. A obra de arte encarna um drama da inteligência, mas só indiretamente apresenta a sua prova. A obra absurda exige um artista consciente desses limites e uma arte em que o concreto não significa nada mais do que ele próprio. Ela não pode ser o fim, o sentido e a consolação de uma vida. Criar ou não criar, isso não altera nada."
  • "A verdadeira obra de arte é sempre proporcional ao homem. É essencialmente aquela que diz "menos". Há certa relação entre a experiência global de um artista e a obra que a reflete, entre Wilhelm Meister e a maturidade de Goethe. Essa relação é má quando a obra pretende dar toda a experiência no papel filigranado de uma literatura de explicação. Essa relação é boa quando a obra só é um fragmento recortado na experiência, uma faceta do diamante em que o clarão interior se resume sem se limitar. No primeiro caso, há sobrecarga e pretensão ao eterno. No segundo, obra fecunda por causa de todo um subentendido de experiência cuja riqueza se adivinha. O problema, para artista o absurdo, é adquirir esse conhecimento da vida que ultrapassa a habilidade do fazer."
  • "A obra absurda ilustra a renúncia do pensamento a seus encantos e sua resignação a não ser mais do que a inteligência que converte em trabalho as aparências e cobre de imagens o que não é racional. Se o mundo fosse claro, a arte não o seria."
  • "A expressão começa onde o pensamento acaba. Foi toda colocada em gestos a filosofia desses adolescentes de olhos vazios que povoam os templos e os museus. Para um homem absurdo, ela é mais esclarecedora que todas as bibliotecas. Sob um outro aspecto, acontece o mesmo com a música. Se uma arte é destituída de ensinamento, é exatamente isso. Ela se aparenta muito com as matemáticas para não lhes ter tomado emprestado a gratuidade. Esse jogo do espírito consigo mesmo segundo leis estipuladas e medidas se desenrola no espaço sonoro que é o nosso e além do qual as vibrações, no entanto, se reencontram num universo inumano."
  • "Na experiência que tento descrever e fazer sentir de diversos modods, é certo que aparece um tormento em cada ponto em que morre outro."
  • "O que acredito verdadeiro, tenho, portanto, de manter. O que me parece tão evidente - mesmo contra mim - devo sustentar. E o que constitui o fundo desse conflito, dessa fratura entre o mundo e o meu espírito, se não a consciência que tenho dele? Se quero, pois, mantê-lo, é por uma consciência permanente, sempre empenhada, sempre renovada."
nov 29 2016 ∞
nov 29 2016 +