Mãe,

Não fica triste. Não te desespera. Não pensa que eu não te amo. Não pensa que eu sou egoísta e que eu não penso em ti e que eu não imagino o quanto tu sofre com todas as coisas ruins que parece que só acontecem contigo.

Não é para sempre. Os sonhos acabam e eu acho que depois sempre começam outros. Porque se não for assim talvez a gente não tenha força e nem vontade de seguir em frente. Se eu morrer não foi porque eu quis e não foi porque eu me cuidei pouco e não foi porque tu não cuidou de mim do jeito certo. Eu sei que faço um monte de coisas que tu não acharia correto. Eu também não acho, mas eu faço. Como agora.

Eu vou ficar longe de casa e ninguém vai saber onde eu estou. Não adianta tu chamar a policia. Eles não vão me encontrar. Não adianta falar com o Diego. Ele me conhece, mas não sabe tudo sobre mim. Ninguém sabe tudo sobre ninguém. Que pena. Não adianta tu chamar um técnico para decifrar cada arquivo deletado do meu computador. Nem todas as letras são visíveis a olho nu.

Se tu sentir saudade, deita na minha cama e olha para o teto do meu quarto. Tu vai ver, talvez pela primeira vez, que as estrelas que o velho colocou não estão mais lá. Faz tempo que isso aconteceu. Chove toda vez que eu sinto saudade, mas algumas coisas ficam mais bonitas quando se transformam em lembranças. A última caiu, não faz muito tempo. Ela está no bolso atrás da minha calça e vai ficar aqui até eu voltar e te abraçar de um jeito tão forte que tu poderá entender.

Se tu quiser entender alguma coisa sobre mim, senta no chão do meu quarto, encosta as tuas costas cansadas na minha cama velha e olha para a fotografia do Bob Dylan colada na parede. Os nossos olhares estão todos perdidos, mas nunca desencontrados. O meu. O teu. E o dele. Todos nós temos muito mais perguntas do que respostas.

The answer is blowing the wind.

aug 24 2016 ∞
sep 29 2016 +