A metáfora nem sempre serve

  • "Enquanto nós andarmos entre pessoas que não estão interessadas em saber o que temos pra dizer e observam estagnadas suas vidas escorrerem entre os dedos pelos ponteiros do relógio; enquanto estivermos em companhia daqueles que não fazem a mínima questão de respeitar as placas de pare ou as que dizem "não acenda seu cigarro aqui, por favor"; e ainda, em sinal de descrença em sua própria força, rogam aos céus todas as noites por uma vida melhor, mas não conhecem o significado do botão de "desligar" da televisão; tão longo for o tempo que perdermos apontando dedos e julgando seres tão diferentemente de nós e esquecermos de olhar para as nossas pernas e sob elas o chão que correr ainda for o mesmo; nenhum discurso ou ideia se fará completamente verdadeiro. A armadilha está na raiz de qualquer pensamento. Devemos convencer pelo exemplo em nossas atitudes e não pela imposição. Havemos de nos proteger, havemos de nos espalhar, havemos de lhes fazer despertar."

Berlin

  • "Saio de casa pra distrair os pensamentos; encontro em qualquer calçada amparo para os meus tormentos. Eu sei que nem sempre as coisas são como a gente quer, mas precisa mesmo ser tão complicado assim? Eles dizem que preciso aprender a me virar sozinho, que preciso aceitar as coisas como são, que mesmo diante do pior dos medos, eu não devo temer e que, às vezes, os problemas só mesmo o tempo pra resolver. Não acho graça quando dizem que essas coisas acontecem e que isso vai passar. Só eu sei há quanto tempo me vejo dando voltas e voltas preso no mesmo lugar..."

Egoísta

  • "Ruim mesmo é assistir a esse filme que a gente já conhece o fim... Parece que a tua vida só anda quando não tropeça em mim. Eu juro que tento desviar dos meus problemas e achar mais tempo pra escutar os teus, mas minha consciência me sufoca e é terrível quando não encontro mais por onde caminhar sozinho. Tinha o espaço que era meu e lá me refugiava todas as vezes em que o mundo parecia não estar afim de mim. Deixei você entrar, com algum receio de que não pudesse mais me esconder. E, diante de tanta alegria que trouxeste aos meus dias, fechei as portas por fora, achando que em nenhuma outra hora nessa vida iria precisar voltar a caminhar sozinho... Mas quando eu mais quis a minha própria companhia e aprender comigo mesmo as manhas que ninguém ensina, tua voz me acolheu e eu não soube negar teu amparo. Não quero admitir, mas não sei mais ser tão só..."

Emmett Brown saberia me dizer

  • "Sempre desejou viver sozinho, mas agora que só se encontrou não dorme, desejando em seu ouvido outra voz pra escutar, além do radio antigo e programas da madrugada na tv e os filmes em preto e branco em um canal alternativo qualquer."

Hoje eu quero ficar

  • "Não gosto do barulho alto quando não é distorção. E toda gente amontoada me faz sentir como se a solidão me perseguisse pelo simples prazer em me ver triste. Em todas as vezes em que me convidaram pra sair, a melhor parte sempre foi voltar pra casa."

Nada acontece

  • "Sigo arquitetando planos para desaparecer. Faz algum tempo que eu nem sei o que é colocar os pés pra fora de casa e já não sinto mais vontade de dormir, já não vejo mais vantagem em estar aqui. Eu visto as roupas em movimentos automáticos, o café sem gosto desce pela garganta. Eu já nem presto atenção aos carros que passam, meus pés pisam sempre os mesmos lugares. E apesar de não querer, e apesar de não buscar, me coloquei aqui, amarrado sem as cordas, calando minha voz. Sigo arquitetando planos para desaparecer. E aos poucos arrastam-se os dias e nada acontece..."

O barco

  • "O barco sem vela segue o rumo errante no oceano das imagens e das palavras, das ideias perdidas e das que não são mais lembradas. Os dias dançam na imensidão do infinito que o relógio não alcança. As pernas cansam, tudo cansa. Mas o tempo segue aquém, alheio e além dos “e se?”, “talvezes” e “poréns”, das tempestades e da calmaria, dos dissabores e da alegria. Segue o tempo avesso ao próprio vento, a quem não obedece. O barco, escravo da maré a seu contento, porque não tem mas também não quer ter nenhuma vela. As pernas cansam, tudo cansa. Os olhos fecham, os dias dançam. Mas o tempo segue aquém, alheio e além dos “e se?”, “talvezes” e “poréns”, das tempestades, da calmaria, dos dissabores e da alegria."

O que pode ser mais importante?

  • "Juro que não sei o que fazer pra me livrar desse vazio que carrego e que insiste em aparecer pra me levar de volta onde eu nunca quis estar. O que pode ser mais importante e triste para um homem do que seus próprios desencontros e a sensação de não poder mudar? A memória aos poucos falha, mas as lembranças nunca desaparecem. O relógio as vezes para, por que as pilhas estão gastas, mas o tempo não esquece de tudo que perdemos, das brigas que tivemos, dos dias em que desejamos não ter existido, dos beijos não roubados, abraços cativados e jogados ao vento. Se o que se sente já não basta no agora, não há espaço onde a saudade mora, pra mudar. Quem foi que disse que o presente há de ser suficiente para abrandar?"

O que vai ser?

  • "Não sei mais se a gente consegue seguir sem pisar os mesmos passos, sem discutir sobre quem esquece a luz acesa. Depois de tanto tropeço meu e tanto soluço teu, quem é que vai saber dizer ali na frente o que vai ser? Não sei mais se a gente consegue seguir sem pisar os mesmos passos, sem dividir os dias bons e ruins..."

Pescador

  • "Ninguém sabe o quanto eu torço pra esse barco virar. Já não aguento mais essa vida que todo dia insiste em me acordar e me tirar da cama para escutar as mesmas conversas, ter sempre o mesmo horário pra voltar. Quem sabe hoje talvez o vento mude e me leve para outro lugar... Não tem me feito bem passar o dia inteiro à míngua com pensamentos e lembranças de coisas que não sei se vivi. Não sei se vivi. Eu rogo ao vento que sopre bem forte, me leve a vida ou então que me tome pelas mãos e me apresente algo muito mais real, já que o barco eu não tive voragem pra virar. Quero sentir o gosto do beijo e o calor de outras mãos."
  • "Pouca gente sabe mesmo do que trata a solidão, porque é difícil demais conviver com os próprios defeitos e admitir que a vontade sempre existe, pro sim e pro não."

Pra onde a gente deve ir

  • "Olha o que você fez em mim... Não dá pra acreditar, mas aconteceu. A gente tem que se aceitar assim, vai ser pior dizer que "pode ser que as coisas mudem". Nem tudo precisava dar certo; eu nunca apostei no “para sempre”. Era bom te ter por perto, mas eu lembro que em algum momento a gente se soltou. Olha quanto tempo já passou e ainda não consigo desviar das lembranças que atropelam meu caminho. Eu bem que poderia ignorar, já não me reconheço, mas aquela, mas por algum motivo eu ainda não consigo..."

Primavera

  • "Arrume agora as malas, nós vamos partir. Pra onde é que ainda não sei, mas isso não importa, não é? Eu na verdade não faço questão de saber, eu só quero sumir. Quero desaparecer com você dessa cidade... Não vá esquecer de nada, eu não quero ter que voltar. Ou então esquece tudo, que se é pra mudar que mude o mundo."

Que sigamos caminhando, Eduardo

  • "Dormindo em minha cama, antes que o silêncio da madrugada fosse embora, tive esse sonho: podíamos ver através das paredes das casas. E, ninguém era feliz. Ninguém era feliz. Andávamos pela cidade como donos do mundo, queimando regras, duvidando de tudo; experimentando a liberdade em seu sentido mais profundo. Ficavam pra trás a moral e os conceitos de quem só aponta os dedos, não sabe nada sobre nós. Não existiam limites, nem grades, nem cercas, nem rédeas, nem passado ou futuro. 'Voy a leer unas palabritas que tienen que ver con el derecho de soñar, con el derecho al delirio, a partir de algo que me ocurrió en Cartagena de Indias, hace ya algún tiempo, cuando estaba en la universidad, dando una charla, junto con un gran amigo, un director de cine argentino, Fernando Birri, y entonces los muchachos, los estudiantes hacían preguntas, a veces a mí, a veces a él, y le tocó a él la más difícil de todas. Un estudiante se levantó y preguntó: «¿Para qué sirve la utopía?», yo lo miré con lástima y digo: «¡Uy!, ¡qué lío, ahora!», y él contestó estupendamente, de la mejor manera. Dijo que la utopía está en el horizonte, y dijo: «Yo sé muy bien que nunca la alcanzaré, que si yo camino diez pasos, ella se alejará diez pasos. Cuanto... cuanto más la busque menos la encontraré, porque ella se va alejando a medida que yo me acerco». Buena pregunta, ¿no?, ¿para qué sirve? Pues la utopía sirve para eso: para caminar.'"

Seria eu se não fosse você

  • "Vai demorar uns dias pra voltar a sorrir. Vai esquecer de tudo aos poucos, aprender a sentir falta, deixar de lado o que sente, disfarçar a insatisfação, engolir o choro, transparecer apenas o que lhe convém transparecer se mostrar forte, segura de si; mas, na verdade, não aguenta mais a sensação de não encontrar nessa vida algo parecido com o que achou que a vida seria. Vai caminhar sozinha, procurar em um abraço qualquer razão pra dizer que ama, mantendo uma distância confortável e não se entregando jamais por inteiro. Vai sufocar o coração que não desistiu e não aguenta mais a sensação de procurar nessa vida algo parecido com o que achou que a vida seria e não encontrar."

Sexta foi um dia mais feliz que quinta

  • "Meus amigos diziam que até mesmo o sorriso que você colocava no meu rosto era diferente."

Tem que ser assim

  • "Tem que ser assim: você vai chegar, dizer que eu não tenho saída, que vai bagunçar de vez a minha vida, subverter os meus planos, abraçar sem medo os enganos, desafiar meu instinto de sumir sempre que eu sinto que corro o risco de gostar demais de alguém, querer demais alguém, prender demais alguém e deixar que alguém me prenda também. Porque já tanto apanhei nessa vida que aprendi que amar é saber deixar ir."

Tenho medo

  • "Ontem a noite o trem parecia flutuar sobre os trilhos; tenho sempre essa sensação quando tudo está bem demais. Não pude dormir pensando em como você iria reagir se eu te disesse, e eu espero que você me entenda - não o tempo o todo e nem sobre todas as coisas, mas sobre isso ao menos."

Vai embora

  • "Ah, eu sei que aquela não é mais a nossa canção, mas eu ainda escuto, juro; não pra relembrar, é que às vezes a música me parece tão boa que nem sei como desperdicei com a sua pessoa."
jul 6 2016 ∞
sep 29 2016 +