‘‘built to be lonely / to love the absent. / find me / free me / from this / corrosive doubt / futile despair / horror in repose. / i can fill my space / fill my time / but nothing can fill this void in my heart.’’

    • 4.48 psychosis — sarah kane

‘‘uma ocasião, / meu pai pintou a casa toda / de alaranjado brilhante. / por muito tempo moramos numa casa, / como ele mesmo dizia, / constantemente amanhecendo. ’’

    • impressionista — adélia prado

‘‘amor é a coisa mais alegre / amor é a coisa mais triste / amor é a coisa que mais quero. / por causa dele falo palavras como lanças. / amor é a coisa mais alegre / amor é a coisa mais triste / amor é a coisa que mais quero. / por causa dele podem entalhar-me, / sou de pedra-sabão. / alegre ou triste, / amor é a coisa que mais quero.’’

    • o sempre amor — adélia prado

‘‘deixe a luz acesa, que eu estou com medo de mim. / bati na porta errada, / disse a palavra inadequada, / queimei o filme, / rasguei o cetim. / hoje eu tropecei na própria sombra, / errei a mira, / quebrei o cristal. / se alguém me disser que não faz mal, / quem sabe eu me convença / e anule de vez essa sentença / que determina minha pena capital.’’

    • condenação — flora figueiredo

‘‘não sei por que tanto mar em minha vida. / ele que fala sempre em despedida, / que canta distância e solidão. / por vezes parece até que ele vaza, / derruba minha porta, / invade minha casa, / ocupa minha cama, / lava meu chão [...] são tantos anos de tamanha intimidade, / que carrego a forte sensação / de que o mar alterou-me a identidade: / metade água, metade coração’’

    • ilha — flora figueiredo

‘‘o céu rasgou-se espada afora / e verteu lágrimas, / muitas lágrimas, / copiosamente lágrimas. / não sei se eram de tristeza ou indignação. / também, não adianta perguntar, / que ninguém responde. / pus minha canequinha do lado de fora da janela, / elas quase transbordou. / estou rica: tenho uma caneca com lágrimas do céu. / os vizinhos caçoam: / quem é que compra um punhado de chuva?’’

    • chuva poética — flora figueiredo

‘‘porque a vida é feita de proibições, / eu não compus todas as canções, / não percebi a brisa suspirar, / eu esqueci de cantigas de ninar, / dei chances demais á voz dos credos, / não rompi de vez todos os medos, / roubei do tempo um tanto de carinho, não vi a flor amar o passarinho, / perdi o trem na curva da vertente / e não deixei o mel melar completamente’’

    • retrospectiva — flora figueiredo

‘‘a lembrança é um barbante. / uma ponta amarrada no começo da história, / outra, em nosso tornozelo. / se o fio estica muito, mal dá pra continuar. [...] feita de fibra grossa, / não afrouxa até que um anjo venha desatá-la / e a transforme numa corredeira de estrelas / e quanto mais a corredeira for comprida, / tanto mais rica há de ter sido a vida.’’

    • amarras — flora figueiredo

‘‘[...] e pergunto / se pode olhar p'ra mim / e emprestar um pouco / da sensação de pura vida / que ostenta / em cada gesto que faz. [...] e sempre faz / um ar de felicidade / que pertence só a ela / e que não pode dividir / mas se espalha / pelo vento da alta noite / p'ra morrer na madrugada / quando nada mais existe’’

    • um vento leste — césar magalhães borges

‘‘aqui embaixo está quente / (mas sinto) / um vento siberiano / soprar as estrelas / e você insiste me morrer / cada vez que te amo. [...] faça o inverno vir, / mas não volte a sua face / escura para mim / como se fosse tudo / o que restou do céu.’’

    • 4ª face — césar magalhães borges
apr 29 2020 ∞
may 23 2022 +