- até aquele dia, sempre tinha alimentado um grande ódio pelo mundo, que achava injusto e desigual. ao menos naquela época eu era eu e o mundo era o mundo. agora, o mundo já não era mais mundo. e eu já não era mais eu
- às vezes eu era invadido por uma falsa sensação de que o meu corpo perdia a consciência e se desprendia aos poucos [...] ficava cada vez mais difícil manter o equilíbrio da consciência [...] era como se a consciência se expandisse cada vez mais, se tornasse dispersa como a paisagem e não conseguíssemos mais prender ela ao corpo carnal [...] nesse percurso eu sentia algo gigantesco, como uma ternura do universo
- parecia que meu próprio corpo derreteria e escorreria de tanto que eu chorava. pensei que poderia morrer no meio dessa extraordinária e abençoada luz. desejei isso. tive a incrível sensação de que as peças se juntavam e formavam uma coisa só. senti uma esmagadora sensação de unidade
- aparentemente, as pessoas caem uma a uma da borda do meu mundo. todas caminham até ali e, de repente, somem. acho que deve haver uma espécie de borda em algum lugar
- parecia que eu me afastava cada dia mais de mim mesmo. quando observava minha mão demoradamente, eu tinha a impressão de que ela ficava transparente e conseguia ver o que tinha atrás dela
jul 28 2021 ∞
jan 5 2022 +