- marianne tinha a sensação de que sua vida real acontecia em outro lugar, bem distante dali, acontecia sem ela, e não sabia se um dia descobriria onde era e se seria parte dela. volta e meia tinha essa sensação na escola, mas não era acompanhada por nenhuma imagem específica de qual aparência ou sentimento a vida real poderia ter. só sabia que, quando começasse, não precisaria mais imaginá-la
- sentiu que faria qualquer coisa para fazê-lo gostar dela, para fazê-lo dizer em voz alta que gostava dela
- ela sente as coisas que ele não está lhe dizendo. não sabe dizer se ele está contendo o desejo de se afastar dela ou o desejo de se tornar mais vulnerável de alguma forma
- marianne, ele disse, não sou religioso, mas às vezes acho que deus fez você para mim (nota: hjskisjdmdsijds aaaaaaaaaaaaa)
- ela parecia uma obra de arte religiosa. era muito mais dolorido olhar para ela do que haviam avisado que seria, e ele quis fazer algo terrível, como atear fogo ao próprio corpo ou enfiar o carro em uma árvore
- olhando nos olhos dele, ela diz: bem, olá. ele sente uma certa receptividade na expressão dela, como se colhesse informações sobre os seus sentimentos, algo que aprenderam a fazer um com o outro no decorrer de um longo período, como falar uma língua secreta
- como seu sentimento por ela poderia jamais ser igual ao sentimento que tinha por outras pessoas? mas parte do sentimento era saber do terrível poder que tivera sobre ela, e continuava tendo, e não conseguia antever perder um dia
- bom, aqui estou, no chão, ele pensou. a vida é muito pior aqui do que seria na cama, ou em um lugar totalmente diferente? não, a vida é exatamente igual. a vida é a coisa que você traz consigo dentro da própria cabeça. poderia muito bem ficar aqui deitado, inspirando a poeira abjeta do carpete para dentro dos meus pulmões, aos poucos sentindo meu braço direito ficar dormente sob o peso do meu corpo, porque é essencialmente igual a todas as outras experiências possíveis
- os sentimentos eram suprimidos com tamanho cuidado na vida cotidiana, forçados a caber em espaços cada vez menores, que acontecimentos aparentemente banais tomavam uma importância insana e assustadora
- odeia a pessoa que se tornou, sem sentir nenhuma capacidade de mudar nada sobre si / tenta ser uma boa pessoa. mas no fundo sabe que é uma pessoa ruim, corrompida, errada, e todas as tentativas de ser correta, de ter as opiniões certas, de dizer as coisas certas, essas tentativas só disfarçam o que está enterrado dentro dela, sua parte malvada
- o que quer que exista entre ele e marianne nunca gerou nada de bom. só causou confusão e tristeza para todo mundo. ele não tem como ajudar marianne, faça o que fizer. existe nela algo de amedrontador, um enorme vazio no fosso de seu ser. é como esperar o elevador chegar e quando as portas se abrem não há nada, somente o terrível vácuo negro do poço do elevador, eternamente. falta a ela um instinto primitivo, autodefesa ou autopreservação, que torna os outros seres humanos compreensíveis. você se escora esperando resistência e tudo se dissolve bem na sua frente. porém, se deitaria e morreria por ela a qualquer momento, o que é a única coisa que sabe a respeito de si mesmo que lhe provoca a sensação de que ele é uma pessoa que vale a pena
- ela fecha os olhos. é provável que ele não volte, ela pondera. ou volte, mas diferente. o que têm agora eles nunca mais poderão ter. mas para ela a dor da solidão não vai ser nada se comparada à dor que costumava sentir, de não valer nada. ele lhe trouxe a bondade como uma dádiva, e agora isso é parte dela. enquanto isso, a vida se abre à frente dele em todas as direções ao mesmo tempo. fizeram muito bem um ao outro. de verdade, ela pensa, de verdade. às pessoas podem mudar as outras de verdade. você devia ir, ela diz. eu vou estar sempre aqui. você sabe disso
- (nota final: disse que só iria marcar o que me deixasse mal das pernas e acabou que tô mais esfarelada da cabeça do que pensei. eles são bem cabaços mas sinceramente acho que sou mais ainda. levei o maior tapasso sobre dependência emocional quando menos precisava mas até que gostei da leitura)
apr 29 2021 ∞
feb 10 2022 +