- muito cedo foi tarde demais em minha vida.
- não que precise chegar a alguma coisa, o que é preciso é sair de onde estamos.
- nunca escrevi, e pensei que escrevia, nunca amei, e pensei que amava, nunca fiz nada a não ser esperar diante da porta fechada.
- ela lhe diz: preferiria que você não me amasse.
- ele diz que está só, atrozmente só com esse amor que sente por ela. ela diz que também está só. não diz com quê.
- eu lhe digo que gosto da ideia de que ele tenha muitas mulheres, de estar entre essas mulheres, confundida entre elas. nos olhamos. ele entende o que acabo de dizer. o olhar subitamente alterado, desfocado, arrebatado, a morte.
- pergunto se é comum ficar triste como estamos. ele diz que é porque fizemos amor durante o dia, na hora mais quente. diz que depois sempre é terrível. e sorri. diz: com amor ou sem, é sempre terrível. diz que isso passará com a noite, assim que ela chegar. eu digo que não é só por ser de dia, que ele está enganado, que sinto uma tristeza que já esperava e que vem só de mim. que sempre fui triste. que vejo essa tristeza também nas fotos em que sou menininha. que hoje, ao reconhecer essa tristeza como a que sempre senti, eu quase poderia lhe dar meu nome, a tal ponto ela se parece comigo.
- era como se ele amasse essa dor, amasse como havia me amado, muito intensamente, talvez a ponto de morrer, e agora ele a preferia a mim.
- “uma imagem vale por mil palavras”, diz-se. mas uma imagem criada pelas palavras de um grande escritor carrega com ela mil sentidos.
dec 25 2018 ∞
dec 30 2018 +