natalia:

  • acho que meu mal sou eu mesmo, esses círculos concêntricos envolvendo o centro do que devo ser. mas só poderei me aproximar dos outros depois que começar a desvendar a mim mesmo. antes de estender os braços, preciso saber o que há dentro desses braços, porque não quero dar somente o vazio. também não quero me buscar nos outros, me amoldar ao que eles pensam, e no fim não saber distinguir o pensar deles do meu.
  • eu não me conheço. e tenho medo de me conhecer. tenho medo de me esforçar para ver o que há dentro de mim e acabar surpreendendo uma porção de coisas feias, sujas. o que aconteceria, então? o orgulho de ter conseguido chegar perto de meu coração? ou uma grande humildade, uma humildade de cão faminto, rabo entre as pernas, costelas aparecendo? não sei, não sei — minha cabeça quase estala quando faço essas perguntas, meu pensamento escorrega, se desvia, foge para longe, como se ele também tivesse medo da resposta. e talvez nem seja preciso coragem. talvez seja necessário apenas um breve impulso, como aquele que me fazia mergulhar de repente na água gelada do açude da fazenda. e eu nem era corajoso por fazer isso, apenas fundo, há só uma verdade: me sinto só. talvez seja essa a causa dos meus males. ou será o desconhecimento do que sou, como escrevi ontem? o que sei é que as coisas que preocupam podem ser resumidas em poucas palavras: deus, solidão. e no fundo, o que existe sou eu. como um grande ponto de interrogação sem resposta.
  • acho que o fato de ser só é inevitável, independente de fatos externos. há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira. eu, por exemplo. acho que mesmo que um dia case e tenha uns dez filhos (coisa que não me atrai nem um pouco, diga-se de passagem), ou mesmo que consiga encontrar a amizade que sonho - e de cuja existência a cada dia mais e mais duvido -, acho que mesmo que aconteçam essas coisas, continuarei só. claro que há a minha própria companhia, este diário, os livros que leio, as drogas que escrevo de vez em quando - mas tudo como que circunscrito a um córculo completamente fechado. frequentemente me assusto, pensando que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação que justifique esse isolamento. mas nada posso fazer, essas coisas acontecem sem que a gente as procure. o melhor a fazer é deixar 'lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar', como disse o poeta. e mesmo assim, talvez eu continue a fazer as refeições sozinho durante toda a vida.

malia:

  • loneliness is the human condition. cultivate it. the way it tunnels into you allows your soul room to grow. never expect to outgrow loneliness. never hope to find people who will understand you, someone to fill that space. an intelligent, sensitive person is the exception, the very great exception. if you expect to find people who will understand you, you will grow murderous with disappointment. the best you'll ever do is to understand yourself, know what it is that you want, and not let the cattle stand in your way.
feb 27 2018 ∞
jan 24 2019 +