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Eu tava pensando sobre a visão que se tem do Japão e, atualmente, da Coreia, como lugares limpos, seguros, bonitos, culturalmente ricos, religiosamente ricos, tecnologicamente ricos, turístico, com culinária interessante, são exemplos na educação e "não muito avançado nas questões sobre feminismo e direitos LGBT". E todas essas coisas são reforçadas pelas produções artísticas, audiovisuais, de entretenimento que são feitas para consumo nacional e internacional. Essas produções, fortalecem um senso comum, as vezes rasos (para estrangeiros), as vezes bem enraizados e direcionados (para nativos).
Eu vejo bastante o discurso de romantização desses dois píises (e outros como Paris) e ao mesmo tempo penso: que legal ter essa reputação, essa romantização de que a vida é perfeita no meu país, de que tudo é possível, de que o meu país é capaz, ou destaque em coisas positivas sobre ele mesmo (não de uma forma que pareça propaganda política censurando os aspectos ruins e críticos). E como são idealizações reforçadas e reconstruídas anos após anos, com essas produções ganhando mais e mais espaço local e internacionalmente. Nisso eu tô pensando na Coreia com sua indústria do Kpop e cinematografica, em uma indústria que só existe no Japão, que é a de mangas e animes, e como o capitalismo funciona nessas coisas pra lá.
Não sei, eu tava pensando no Brasil... e como a imagem daqui estacionou nos anos de Getúlio e se destruiu com os tempos de 2014-2022. Uma música que resume bem o país é Tieta do Caetano: "Futebol e Carnaval" e eu destacaria o samba. Não por causa dessas coisas em si, mas por representarem gente preta e festa, muita festa, na saúde e na doença. Um ritmo alegre pra cantar tristezas. E eu acho isso bem brasileiro. Não tem tempo ruim, sempre rindo por costume à desgraça. Não por sermos felizes genuinamente, mas as vezes sim... . Será se eu tô romantizando o Brasil?
Eu só acho engraçado essa dualidade, de sermos hospitaleiros com o estrangeiro e temos nenhum senso de pertencimento e patriotismo. De sermos considerados liberais e matarmos mulheres e travestis aos montes todos os dias, por conservadorismo. Tudo fruto de colonialismo e toda a desgraça que isso implicou aqui, do qual o racismo se deriva, a síndrome vira-lata, o jeitinho brasileiro, a desigualdade social e de gênero, e a má fundamentação usada pra validar todas essas coisas. Fundamentação esta que resultou na eleição de 2018, inclusive.
Ai eu me pergunto quais são os símbolos de orgulho atualmente, no Brasil? E o quão perigoso é ter um ídolo único, como símbolo, e esse ídolo sendo um político. Não é como se a gente fosse a Inglaterra com toda a simbologia que a família real implica na sociedade inglesa. Mas é algo com bastante peso, que monopoliza as conquistas na educação, no cinema, na ciência, na arte. Não é uma cantora, não é um jogador de futebol, não é um corredor de formula 1, não é uma apresentadora de televisão, uma modelo de passarela. Claro que, ao longo dos anos, cada nicho tem seu indivíduo de destaque, mas nada com peso nacional, com respaldo uníssono. Como Pelé, Ayrton, Carmen Miranda foram... Por mais importantes que essas figuras sejam pro imaginário popular, elas se foram, tanto por estarem mortas como estarem restritas a uma temporalidade que não é atualmente. E não tem nada que reforce, resgate, ressignifique o impacto dessas pessoas nos dias de hoje. A não ser uma homenagem na globo quando morrem.
Com isso, eu não tô dizendo que o Brasil não é mais visto como um paraíso perdido, cheio de praias, gente alegre, país do futebol, tanto fora quanto dentro. Eu to chamando atenção pra falta de um reforço positivo nessas coisas, dentro do nosso país, que não seja apenas por causa de datas comemorativas e estações do ano. Mas algo em que se agarrar culturalmente e na arte.
(Eu sei que atualmente temos a Rayssa Leal como potencial símbolo, mas não sei se nacionalmente as pessoas sentem esse impacto. Mesmo ela estando todos os dias na TV e tendo reconhecimento internacional. As vezes eu penso que só conheço ela porque ela é da minha cidade. Tivemos um subto momento desses com o Paulo Gustavo, após sua morte, mas eu sinto que isso é algo mais do nicho São Paulo/ Rio. Então me pergunto se existem símbolos nacionais por região ou estado, ou se nem isso)
A forma como esse texto foi escrito, sem releitura, sem correção, sem pensar duas vezes é pano pra manga pra muita gente discordar ou achar absurdo. Eu discordaria se lesse por aí. Só faz sentido pra mim, porque eu sei daonde ele vem, e ao que ele está associado na minha cabeça. De uma forma que eu não sei ainda como converter em palavras, como fazer as associações adequadas, de como ser mais clara.