esse aqui compartilharam no bluesky e me encantou a arte. não achei perfeito, mas me surpreendeu positivamente.

gosto de mangás que abordam conflitos de casais já estabelecidos ou que nos permitem espiar aquela relação por uma janela temporária. aqui temos um modelo no auge da fama, admirado por todos, e um ilustrador recluso cujo sentimento beira a devoção. se, por um lado, o ídolo em questão quer ser amado como pessoa e não como deidade intocável por seu parceiro, o devoto, por sua vez, não sabe lidar com a exposição de seu desejo, com a retribuição do olhar, e por isso mantém distância: para ele basta observar seu objeto de estudo de perto. ou não. problemas de comunicação, eh? amo.

a arte é muito bonita, com bons enquadramentos, e consegue transmitir com precisão as emoções das personagens, mesmo em cenas onde nada é dito em palavras. fiquei com vontade de procurar outros trabalhos da artista.

apesar de me agradar, a dinâmica com o hóspede, convidado pelo josé em uma clara provocação ao amou, poderia ser melhor explorada. a tensão, intrusão, a percepção de um observador externo, como nós, envolvido de repente na intimidade dos amantes... um desperdício não se aprofundar nisso. o desfecho pareceu-me abrupto. acho que um volume foi pouco para desenvolver o potencial dessa história, mas acredito que não deva ser culpa da autora e sim das circuntâncias da publicação, nem sempre ideais.

já estou quase lendo de novo, vira e mexe estou revisitando algumas páginas. por exemplo, quando o josé olha nos olhos do amou, tão próximo que parece um beijo, e ao mesmo tempo parece o encontro de deus com um homem. ou ainda, quando o josé, com o nariz quebrado, completamente desalinhado, confronta seu parceiro, indagando (tal qual lana) se o artista amará seu objeto de adoração quando não mais for jovem e bonito, e recebe como resposta um declaração super cliché sobre encontrar beleza nas imperfeições, que aprecio mesmo repetida pela enésima vez em uma obra de ficção.