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confesso que o terceiro volume da saga não me agradou tanto quanto os dois primeiros. não me levem a mal, é uma boa história. mas o feiticeiro de terramar e as tumbas de atuan são excelentes e falam com a minha alma em um nível que a última margem não consegue.
aqui, a ursula explora os conceitos de morte e vida como manifestações harmonicas e complementares, partes de um ciclo maior e interminável, colocado em risco pela arrogância humana. a narrativa versa sobre aceitar e continuar em frente, em vez de se permitir paralisar e apodrecer por dentro em negação ao fim de todas as coisas (pois o que podemos fazer contra a enterna mudança senão nos adaptar, afinal?). uma lição bonita, de fato. aliás, foi uma experiência interessante ler ao mesmo tempo que jigokuraku, pois algumas facetas do tema e das personagens se complementam: o processo do arren encontrar sua força na própria fraqueza me lembra a jornada da sagiri nos dois primeiros volumes do mangá, por exemplo.
porém, se nas duas primeiras aventuras temos protagonistas extremamente falhos, lutando contra seus demônios pessoais em jogos de luz e sombra, nesta última temos um vilão externo (saído do éter) para antagonizar com as nobres intenções dos heróis, arren e ged. claro, arren possui defeitos de caráter: teme o insucesso, ao ponto de duvidar de si, do outro, e por diversas vezes demonstra ser ignorante e arrogante como o jovem recém saído das fraldas que é. no entanto, não existe ameaça real em seu percurso, desde o início se estabelecendo que será bem sucedido nesta empreitada. não há aprofundamento nos conflitos da personagem como nos livros precedentes: ninguém se perde em labirintos aqui.
ged, por sua vez, faz o papel de uma voz que orienta arren a seguir o caminho correto. no ápice da sabedoria, o mago se assimila ao leão de nárnia, e sua relação com o rapaz, a de um deus para seu servo fiel. uma pena, porque prefiro o ged dos livros anteriores, mais humano, menos inalcançável.
a exteriorização do mal na figura do cob parece-me uma saída preguiçosa. além de não existir qulquer sinal de sua existência nos volumes anteriores, suas falas são risíveis, beirando ao texto de um vilão de filme de cachorro da sessão da tarde. sabe aquele cara malvadão que deseja dominar o mundo porque sim (insira risadas malignas)? é todinho ele. seu embate com ged é desprovido de qualquer sutileza, constrangedor de ler: didático, maniqueísta. estava lendo os ultimos capitulos no ônibus lotado e pensei que algum ex-viciado tinha subido no coletivo para salvar minha alma.
enfim, reconheço a necessidade do terceiro livro não repetir os demais, mas poderia ser muito melhor do que isso. não é um livro ruim, apesar de estar aquém dos antecessores. excetuando-se os aspectos que não me agradam, elencados acima, a escrita da ursula agrada-me bastante. é bonita.
isto posto, gostei do simbolismo da navegação em alto mar, especialmente a caverna onde as águas murmuram ahm e ohb. e os dragões!!! os dragoes de terramar estao entre meus preferidos. e me sinto satisfeita com o desfecho do ged (ele ansiando por reencontrar ogion e tenar... awn).