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hoje não vou chapiscar nenhum young adult na lama, pois, surpreendentemente, gostei desse mais do que princesa das cinzas, da mesma autora.

talvez porque, em terceira pessoa, o texto não me parece maçante. se em princesa das cinzas os leitores se vêem limitados a cabeça de uma adolescente de dezesseis anos em prisão domiciliar, cujas interações sociais são limitadas e repetitivas, em castelos... somos um observador externo que transita por três núcleos onde coisas acontecem, de forma acelerada, o tempo todo. a alternância entre três os pontos de vista não permite ao leitor se aborrecer. florzinha, docinho e lindinha possuem personalidades distintas, e se um núcleo, por vezes, carece de movimentação (oi, friv), os outros conseguem segurar as pontas sem problemas.

ou, quem sabe, porque essa nova trilogia não se apoie no tropo insuportável da mocinha às voltas em um triângulo amoroso, dividida entre dois mundos (o amigo de infância e o galã proibido zzz...). aliás, fico contente pelo fato de ninguém precisar se lembrar de como respirar. estamos progredindo. os romances de castelos... não são memoráveis, não são arrebatadores, mas são bonitinhos o suficiente para o leitor comprá-los e torcer por eles, sem, todavia, desviar o foco da trama principal. há receitas para todos os gostos: em friv, a antipatia à primeira vista que se transforma em algo mais com o passar dos dias; em temarin, a paixão idealizada dando lugar ao companheirismo sincero ante as turbulências; em cellaria, o afeto que se trasmuta em inimizade após uma traição... para não falar dos gays no armário praticando o mutual pining mais insosso da história da literatura.

quiçá, porque certa contradição que me desagrada em muitos livros young adult, aqui, é utilizada a favor do roteiro: o fato das mocinhas, descritas o tempo todo como fortes, capacitadas, estrategistas, nascidas para enganar e reinar (risos), revelarem-se não mais que crianças tolas, joguetes descartáveis. o que poderia ser apenas frustrante é justamente a questão explorada na trama. a reviravolta não chega a surpreender, mas é uma delícia ver a ficha das meninas caindo. confesso que não esperava pelo desfecho.

dito isso, em termos de complexidade e estilo, é uma típica leitura para entretenimento, dessas que desovam as dezenas toda semana no mercado editorial. não se aprofunda, não faz história, não muda vidas. porém, é ótimo para desligar do mundo por algumas horas. obviamente, poderia ser melhor escrito (senti falta, sobretudo, de descrições dos cenários e personagens, de uma melhor ambientação, mas reclamar disso é chover no molhado...). a edição brasileira está cheia de erros grosseiros de revisão. se quiserem me contratar, estamos aí.

rainha sophronia você sempre será amada. please come to brazil.

oct 1 2023 ∞
oct 10 2023 +